segunda-feira, 30 de março de 2015

FAZENDA PAPUDA

                  

                A fazenda Papuda ficava a 60 quilômetros de Luziânia. O trajeto no lombo de animais de montaria transcorria um dia para o acesso a sede da fazenda, e dois dias em carro de bois. Ela foi edificada antes da construção da capital federal, e situava-se onde hoje está localizado o Complexo Penitenciário da Papuda, na região administrativa da cidade de São Sebastião DF. 
                    A fazenda foi desapropriada pelo estado que passou para União em 1957. O nome da fazenda se deve provavelmente a um casal de negros escravos que os antigos encontraram na beira do córrego, denominado córrego da papuda e que a mulher era portadora de uma deformidade física, espécie de bócio, aumento do volume da glândula tiróide ocasionando o papo ou papeira. 
                 A fazenda pertenceu ao Sr. Manoel José da Costa Meireles, e foi transferido por herança ao irmão e genro senhor Josué da Costa Meireles, que foi casado com Maria Elísia da Costa Meireles, a partir de então a fazenda ficou para os herdeiros, filhos do Sr. Josué da Costa Meireles, conforme nos conta o seu neto Sr, Américo de Jesus Meireles, morador da antiga fazenda por mais de 50 anos. Ele prossegue descrevendo os pormenores das divisas da grande fazenda, “compreendida numa área de 7 mil alqueires que partindo do rio São Bartolomeu até a Barra do Mato Grande, e da cabeceira rumo a Taboca, daí rumo a Canjerana até a barra com o Gama e por ele acima, até a barra da Cabeça de Veado de rumo a Cabeceira do Cachoeirinha e por ele abaixo até o São Bartolomeu  e por ele acima até a barra do Papuda, portanto nos limites do Paranoá, Taboquinha, Gama e Santa Bárbara, todas grandes fazendas com muito gado”. 
                 A edificação da fazenda seguia o modelo da arquitetura bandeirista com esteios de aroeira, telhas de barro e paredes erguidas em pau-a-pique e adobe. Na fazenda tinha a casa de morar, antiga residência da família Meireles, a casa do moinho onde fabricavam o fubá de milho, com uma máquina antiga feita de pedra e movida por água, artefato da engenharia antiga, além da casa do engenho, local de fabricação da rapadura e o açúcar, com matéria prima da própria fazenda, pois ali plantava a cana “Java”, “cana rocha”, além da cana “caiana”. Mais adiante existia a casa dos escravos, que chamavam de senzala, construída com cômodos amplos, pesadas janelas de madeira e bem arejada. 
               Sr. Américo nos conta de uma curiosa roda que os antigos diziam existir ali, cuja função era açoitar os escravos, e que essa roda era girada pela forças das águas, entretanto ele não chegou a ver esta roda.  No portal da janela que se abria para o quintal existiu um sino de bronze de aproximadamente 20 cm e que servia para anunciar os horários das refeições aos trabalhadores e moradores da antiga fazenda. No quintal carregado de verde, vicejavam várias espécies de árvores frutíferas, especialmente enormes mangueiras, jabuticabeiras, laranjeiras e outras. 
                 Na paisagem distante cercada por morros havia uma cruz de aroeira e que pode estar fincada por lá até hoje, pois era costume dos fazendeiros antigos colocarem uma cruz no alto dos morros como símbolo do cristianismo e também para demonstrar a fé e proteção ao lugar. 
               A principal atividade econômica da fazenda era a pecuária, com a criação de gado para corte, gado comum, ou seja, o Gir cruzado com Guzerá ou Índio do Brasil, que geralmente era comercializado em Pires do Rio e também Vianópolis, e casualmente com algumas vendas para Barretos SP.  
                A agricultura na fazenda se voltava para plantação de arroz, milho e feijão para consumo próprio. A fazenda chegou a ter 02 carros de bois que alem de contribuir para os serviços da fazenda, foram utilizados nas viagens até Vianópolis Go, especialmente para o transporte de sal. A viagem, bastante cansativa, durava em torno de 4 dias para chegar ao destino. Fardos de sal chegavam a estação de Vianópolis em vagões do trem, antiga Maria fumaça. 
             A fazenda foi palco de festejos e romarias com fogueiras, oração do terço, leilão e muita catira em homenagem a Santo Antônio, São João, São Pedro e São Sebastião, pois era comum, naquele tempo a Folia do Divino passar pela fazenda, pois ela saía da região do Garapa indo até o Paranoá e voltava. O Paranoá ficava próximo a Planaltina e Luziânia, e na parte de baixo, ficava próximo a Unaí. Importante notar a confecção dos móveis para fazenda, pois a madeira era retirada da matas da região. A maioria dos móveis foi confeccionada pelos escravos, que lavravam a madeira com o encho, e utilizavam o Balsamo, Aroeira, o Cedro, Moreira ou o Landim, todas consideradas madeira de lei. 
         A fazenda recebia a visita do padre Bernardo para os serviços da igreja que naquele tempo chamavam de desobriga, o padre visitava a fazenda a cavalo. Sr Américo nos conta que depois da desapropriação o casarão da fazenda foi desabitado e com o tempo foi caindo e desaparecendo da paisagem. (Por José Álfio e Américo de Jesus Meireles). (foto acima: 02/10/1956. Autor: Jesus Meireles. Na foto. Casarão da Fazenda Papuda, com Lázaro Meireles, Américo de Jesus Meireles e Manoelzinho. Acervo de: Cora de Lurdes Meireles)