A fazenda Papuda ficava a 60
quilômetros de Luziânia. O trajeto no lombo de animais de montaria transcorria
um dia para o acesso a sede da fazenda, e dois dias em carro de bois. Ela foi
edificada antes da construção da capital federal, e situava-se onde hoje está
localizado o Complexo Penitenciário da Papuda, na região administrativa da
cidade de São Sebastião DF.
A fazenda foi desapropriada pelo estado que passou
para União em 1957. O nome da fazenda se deve provavelmente a um casal de
negros escravos que os antigos encontraram na beira do córrego, denominado
córrego da papuda e que a mulher era portadora de uma deformidade física,
espécie de bócio, aumento do volume da glândula tiróide ocasionando o papo ou papeira.
A fazenda pertenceu ao Sr. Manoel José da Costa Meireles, e foi transferido por
herança ao irmão e genro senhor Josué da Costa Meireles, que foi casado com
Maria Elísia da Costa Meireles, a partir de então a fazenda ficou para os
herdeiros, filhos do Sr. Josué da Costa Meireles, conforme nos conta o seu neto
Sr, Américo de Jesus Meireles, morador da antiga fazenda por mais de 50 anos.
Ele prossegue descrevendo os pormenores das divisas da grande fazenda, “compreendida
numa área de 7 mil alqueires que partindo do rio São Bartolomeu até a Barra do
Mato Grande, e da cabeceira rumo a Taboca, daí rumo a Canjerana até a barra com
o Gama e por ele acima, até a barra da Cabeça de Veado de rumo a Cabeceira do Cachoeirinha
e por ele abaixo até o São Bartolomeu e
por ele acima até a barra do Papuda, portanto nos limites do Paranoá,
Taboquinha, Gama e Santa Bárbara, todas grandes fazendas com muito gado”.
A
edificação da fazenda seguia o modelo da arquitetura bandeirista com esteios de
aroeira, telhas de barro e paredes erguidas em pau-a-pique e adobe. Na fazenda
tinha a casa de morar, antiga residência da família Meireles, a casa do moinho
onde fabricavam o fubá de milho, com uma máquina antiga feita de pedra e movida
por água, artefato da engenharia antiga, além da casa do engenho, local de
fabricação da rapadura e o açúcar, com matéria prima da própria fazenda, pois
ali plantava a cana “Java”, “cana rocha”, além da cana “caiana”. Mais adiante
existia a casa dos escravos, que chamavam de senzala, construída com cômodos
amplos, pesadas janelas de madeira e bem arejada.
Sr. Américo nos conta de uma
curiosa roda que os antigos diziam existir ali, cuja função era açoitar os
escravos, e que essa roda era girada pela forças das águas, entretanto ele não
chegou a ver esta roda. No portal da
janela que se abria para o quintal existiu um sino de bronze de aproximadamente
20 cm e que servia para anunciar os horários das refeições aos trabalhadores e
moradores da antiga fazenda. No quintal carregado de verde, vicejavam várias
espécies de árvores frutíferas, especialmente enormes mangueiras,
jabuticabeiras, laranjeiras e outras.
Na paisagem distante cercada por morros
havia uma cruz de aroeira e que pode estar fincada por lá até hoje, pois era
costume dos fazendeiros antigos colocarem uma cruz no alto dos morros como
símbolo do cristianismo e também para demonstrar a fé e proteção ao lugar.
A
principal atividade econômica da fazenda era a pecuária, com a criação de gado
para corte, gado comum, ou seja, o Gir cruzado com Guzerá ou Índio do Brasil,
que geralmente era comercializado em Pires do Rio e também Vianópolis, e
casualmente com algumas vendas para Barretos SP.
A agricultura na fazenda se voltava para
plantação de arroz, milho e feijão para consumo próprio. A fazenda chegou a ter
02 carros de bois que alem de contribuir para os serviços da fazenda, foram
utilizados nas viagens até Vianópolis Go, especialmente para o transporte de
sal. A viagem, bastante cansativa, durava em torno de 4 dias para chegar ao
destino. Fardos de sal chegavam a estação de Vianópolis em vagões do trem,
antiga Maria fumaça.
A fazenda foi palco de festejos e romarias com fogueiras,
oração do terço, leilão e muita catira em homenagem a Santo Antônio, São João,
São Pedro e São Sebastião, pois era comum, naquele tempo a Folia do Divino
passar pela fazenda, pois ela saía da região do Garapa indo até o Paranoá e
voltava. O Paranoá ficava próximo a Planaltina e Luziânia, e na parte de baixo,
ficava próximo a Unaí. Importante notar a confecção dos móveis para fazenda,
pois a madeira era retirada da matas da região. A maioria dos móveis foi
confeccionada pelos escravos, que lavravam a madeira com o encho, e utilizavam
o Balsamo, Aroeira, o Cedro, Moreira ou o Landim, todas consideradas madeira de
lei.
A fazenda recebia a visita do padre Bernardo para os serviços da igreja
que naquele tempo chamavam de desobriga, o padre visitava a fazenda a cavalo.
Sr Américo nos conta que depois da desapropriação o casarão da fazenda foi
desabitado e com o tempo foi caindo e desaparecendo da paisagem. (Por José
Álfio e Américo de Jesus Meireles). (foto acima: 02/10/1956. Autor: Jesus Meireles. Na foto. Casarão da Fazenda Papuda, com Lázaro Meireles, Américo de Jesus Meireles e Manoelzinho. Acervo de: Cora de Lurdes Meireles)